Sempre que o assunto é a escolha da carreira profissional dos jovens, eu me lembro do livro "Memórias de um Médico da Roça", de Ciro Vieira da Cunha, cuja primeira edição foi publicada em 1965. Escritor de grande sucesso, o autor contou no livro, em linguagem bem humorada, seus próprios fracassos como médico. Ele contou que na verdade queria mesmo ser escritor mas tornou-se um médico para realizar o desejo dos pais. Vindo de São Paulo para exercer a medicina no Espírito Santo, reconheceu que era um péssimo médico quando decidiu abandonar a profissão de uma vez por todas. Foi aí que se tornou um escritor e, finalmente, um profissional respeitado e bem sucedido.
Se vocês pensam que casos como os de Ciro são coisas do passado ou são raros, lamento ter que lhes dizer que estão enganados. Ainda são frequentes os casos em que familiares, especialmente pais e mães, tentam determinar as escolhas profissionais dos filhos e das filhas embora até jurem que isto não seja verdade. Insistem em afirmar que seus filhos têm vocação para isto ou aquilo, ignorando que "vocação" é uma coisa e "talento" é outra. Insistem para que seus filhos se tornem médicos, advogados ou profissionais de alguma outra área sempre relacionada a status social, a altos salários (que nem sempre são altos), etc. São pais e mães que na verdade, embora não admitam isto, querem a preservação ou a elevação do status social através de seus filhos.
Há também outras situações em que outros fatores influenciam na escolha profissional dos jovens: o sucesso profissional dos próprios pais (muitos médicos são filhos de médicos, advogados são filhos de advogados, etc.). Nem sempre os filhos têm os mesmos talentos dos pais. Há também os casos em que a escolha se baseia na preocupação econômica. Influenciados pela família ou não, os jovens querem saber qual profissão garante melhores salários ou mais facilidade de emprego. Estes precisam lembrar que os cursos profissionalizantes, de nível superior ou não, duram um determinado período, e que durante esse tempo as tendências no mercado de trabalho mudam muito. Mesmo se não mudassem, o talento profissional ainda seria o fator mais importante.
Pais e mães costumam dizer que seus filhos têm "vocação" para tal profissão "desde pequeninhos". Não são raros os - es as - jovens que dizem isto sobre si mesmos(as). Porém, como eu já disse antes, a vocação é uma coisa e o talento é outra. A vocação é a vontade de ser, o talento é a capacidade de ser. Para obter sucesso é preciso combinar a vocação com o talento.
Por outro lado, os pais e as mães não somente podem como até precisam ajudar os filhos a fazerem suas escolhas profissionais. Ajudar, mas sem tentar determinar. Devem colaborar para que seus filhos façam suas próprias escolhas ponderadamente. No Brasil, é aqui que se encontra uma grande dificuldade. Num país onde o sistema educacional sempre foi e continua sendo cada vez mais precário, onde a cultura não é tão valorizada quanto deveria ser, onde ler é um hábito cultivado por poucos e a maioria dos que leem raramente escolhe uma leitura qualitativa, há muitos pais e mães capazes de jurar que ajudam seus filhos de forma correta e talvez essa forma não seja adequada como eles pensam que seja.
Não há uma regra absoluta para isto. Nem precisa haver. Num mundo cada vez mais globalizado, o que é necessário é que pais e mães tenham condições educacionais e culturais suficientes para participar das escolhas dos filhos de modo a lhes garantir segurança nessas escolhas. Isto requer cuidado extremo durante a adolescência dos filhos, que o período em que a indecisão tende a dominar as mentes. Os adolescentes não sabem montar um plano de carreira - e, na vida, para dar certo, tudo precisa ser planejado.
Essas indecisões dos jovens se comprovam durante os cursos nas universidades. Estudos estatísticos revelam que, no Brasil, mais de 50% dos universitários iniciam um curso e concluem outro. De qualquer forma ainda há mais chances de sucesso e felicidade na escolha profissional quando os próprios filhos escolhem suas profissões. É sobre isto que os pais e as mães precisam refletir se realmente querem que seus filhos sejam bem sucedidos na vida. Felicidade não é coisa que se obtém como se fosse uma herança de uma geração para outra. Cabe aos pais e às mães aconselhar filhos e filhas constantemente, mas cabe aos filhos e às filhas a responsabilidade de fazerem suas próprias escolhas.
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